Crônica 2 - "Toca Raunchy, George"





Liverpool, 06 de fevereiro de 1958.


Querido diário,

Hoje fui com as meninas da escola assistir ao meu primeiro show de Rock and Roll... The Quarrymen no Wilson Hall em Garston.
Os discos do Elvis que irritavam meus pais já não eram mais suficientes para saciar o meu vício. Ainda mais sabendo que Liverpool tinha bandas de rock que tocavam regularmente há mais de um ano. Eu tinha que ver de perto!
Mas, eu, Peggy Smith, com apenas 15 aninhos não era 'adulta' o suficiente para poder estar rodeada de cabeludos, ouvindo aquela música do diabo... Ainda posso ouvir minha mãe dizendo essas palavras!
Então, falei para os meus pais que iria dormir na casa de uma amiga, Martha Quinn, para estudarmos para a prova de aritmética do dia seguinte. Martha, era filha de mãe solteira, pois o pai havia morrido na guerra. A mãe dela, Gladys, era enfermeira no turno da noite no Hospital Wolton, na Rice Lane. 
Oportunidade perfeita para irmos ao show. Pegamos o ônibus até Lowbridge Court e de lá fomos a pé até Garston, onde encontramos as outras meninas da turma.

O Wilson Hall, com a sua imensa parede de tijolos vermelhos, mais parecia uma

igreja medieval do que um lugar para shows de rock. Mas, mesmo assim, eu continuava empolgada. 
Entramos e fomos logo para a frente do palco. Pequeno e mal iluminado, era mais do que um sonho para nós. 
Então, os Quarrymen sobem ao palco... Martha tinha uma quedinha pelo guitarrista deles, Eddie Clayton, e já começou a gritar! 
'That'll Be The Day' do Buddy Holy, foi a primeira música... John Lennon, o cantor, parecia um astro de cinema. Camisa branca, gravata preta... Um charme! E ainda tocava guitarra! Ai, ai, ai...
Devo dizer que eu não era muito fã de Little Richard, pois achava que ele gritava demais. Então... "Lucille'! Paul McCartney, o outro cantor/guitarrista, a cantou maravilhosamente bem! Me apaixonei no ato!

Perto da gente, um garoto meio Teddy Boy parecia conhecer todas as músicas e
acompanhava a batida balançando discretamente a cabeça. Meio como se analisasse a performance. Notamos que ele fumava e pedimos um cigarro a ele. Perguntamos o seu nome e ele, quase de forma inaudível, disse... “Eu me chamo George”.
Ficamos ali o tempo todo... Dançamos, pulamos, gritamos, flertamos, bebemos e o George, impávido. Era tão quieto que ficava até bonitinho, com seu topete e jaqueta de couro preto a la Gene Vincent.

Depois que o show acabou nós fomos a pé até Church Road para pegar o ônibus de volta para a casa de Martha. Estávamos ambas em êxtase!
Quando subimos no ônibus, notamos que George já estava sentado, sozinho, no fundo. Então, nos sentamos perto dele para conversar. Como se fosse possível! Ele parecia estar nervoso...
Então, do andar de cima do ônibus, ouvimos passos e desce Paul McCartney com um violão e disse... “Vamos Georgie... Venha mostrar pra ele”. George se levantou e nós fomos atrás... Enxeridas e curiosas.
No andar de cima, vimos que John Lennon estava lá também, usando óculos... que tirou imediatamente quando nos viu. Lennon então disse... "se você puder tocar como Eddie, você pode se juntar ao grupo".
George se sentou de frente para ele, pegou o violão e tocou Raunchy, uma música instrumental do Bill Justis... Eu tinha esse disco lá em casa, mas nem ligava tanto para ele... Mas, com George tocando, ficou linda!

("Raunchy) em 3 interpretações de 1957)

Lennon parecia inconformado do fato do garoto tocar tão bem. McCartney ria e dizia "Eu te disse. Eu te disse"! Então o ônibus chegou ao nosso ponto. Descemos e fomos pra casa maravilhadas. Mas, comigo eu pensava: pobre Eddie, pobre Martha.
Quanto a mim, parecia que a Peggy aqui tinha se apaixonado pela segunda vez na mesma noite! Seja bem-vindo aos Quarrymen, George!

por Alysson Almeida

Os "Quarrymen" em uma recepção de casamento na casa dos Harrison, em 1958


Contexto Histórico : George e Paul se conheceram no início da moda do Skiffle, antes mesmo de Paul entrar para os "Quarrymen". George diz que costumavam aprender acordes e tocar juntos em sua casa à noite. Havia cerca de um ano que Paul ingressara na trupe de John, quando George foi apresentado à banda. Ele havia assistido no Wilson Hall ao show da banda que ainda tinha Eddie Clayton tocando um dos violões.
O ingresso de George à banda ocorreu no início de 1958, provavelmente em 06 de fevereiro, graças ao riff de "Raunchy" de Bill Justis. Nas palavras do próprio George: "Nós estávamos no segundo andar do ônibus, indo para algum lugar com nossos violões, e o John gritava: "Toca Raunchy, George".
Segundo John, George foi convidado a ingressar na banda porque conhecia muito mais acordes que eles, mas o que retardou sua aceitação foi sua idade. "George parecia ainda mais novo do que Paul, e Paul parecia ter 10 anos com aquele rosto de bebê". (por Leko Soares)




Comentários

  1. Que coisa hem! Quando é pra ser, o universo conspira a favor!

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  2. Fala Juliano!
    Obrigado por acompanhar. Essa semana tem crônica nova na área.
    Beatles Neles!

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  3. O " cara " q falou acima de mim. Ou ele gosta, ama ou odeia e não gosta. Leiam... Treta treta. Da boa. Faze o que?

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