JÁ FAZ 50 ANOS! – O fim da banda e o começo da lenda



Por Alysson de Almeida

"The dream is over… what can I say?" Cantou John Lennon na música God, lançada no álbum John Lennon/Plastic Ono Band, em dezembro de 1970. A música, além de falar das suas 'descrenças', falava sobre o final dos anos 1960 e também do fim dos Beatles.

Entretanto, em 10 de abril de 1970, Paul McCartney enviou um comunicado oficial para alguns jornalistas anunciando oficialmente seu desligamento dos Beatles, alegando diferenças pessoais, musicais e empresariais, mas principalmente o fato de querer passar mais tempo com sua família, junto com uma cópia de seu primeiro disco solo 'McCartney'.


Cinquenta anos depois do fim da banda mais famosa da história da música, os fãs dos Beatles continuam tentando entender quais motivos levaram o quarteto britânico a se separar, tão precocemente, e no auge da fama, em 1970.
O que aconteceu? Por que aconteceu? E, desde quando já vinha acontecendo? O beatlelogias.com traça um paralelo do ambiente, das prováveis causas e dos sentimentos que rondaram e contribuíram para a separação da maior banda de todos os tempos.

A morte de Brian Epstein


Muitos relatos dizem que o relacionamento entre os quatro começou a se deteriorar a partir da morte do empresário Brian Epstein, por overdose, em agosto de 1967. A partir daí os Beatles tiveram que começar a lidar com o lado empresarial de suas carreiras o que, por ser novidade, os deixou em posição de tomar decisões quanto aos seus negócios como empresa.

"Ali, eu soube que estávamos ferrados", declarou Lennon. "Eu não tinha ilusão a respeito de nossa incapacidade em fazer outra coisa que não fosse tocar, e fiquei assustado. Pensei: 'Fodeu'." Paul, por outro lado, não tinha a mesma opinião.

De início, Paul indicou como substituto seu futuro sogro, o advogado Lee Eastman, pai de Linda. Os outros três discordaram e indicaram o empresário Allen Klein. Klein foi nomeado como gerente de negócios da banda interinamente, tendo os Eastmans como advogados dos Beatles. Entretanto, as discussões entre os membros da banda e a desarmonia no que dizia respeito à produção musical logo viriam a permear também suas discussões de negócios.


Logo ficou evidente que os Eastmans e Klein desenvolveram um profundo antagonismo relacional, dados os conselhos e posturas disparatados. Quando tiveram de escolher entre Klein e os Eastmans, Harrison e Starr optaram por Klein. Os Eastmans foram dispensados como representação legal dos Beatles e em 8 de maio Lennon, Harrison e Starr assinaram um contrato para que Klein se tornasse o gerente de negócios da banda. Isto agravou ainda mais a antipatia e a desconfiança dentro da banda. McCartney mais tarde declarou crer que a evolução dos quatro membros de músicos para homens de negócios foi a razão central para a separação dos Beatles. Paul McCartney nunca colocou sua assinatura no contrato entre a banda e o empresário.

Nota: Allen Klein havia sido empresário dos Rolling Stones de 1966 a 1968. Mick Jagger, que é formado em Economia, impressionado com o talento de Klein para o negócio e o resultado conseguido por ele com outros artistas, contratou-o para empresariar a banda e chegou a indicá-lo para Paul McCartney. Entretanto, com o tempo, Jagger começou a duvidar da probidade de Klein e em 1968 o demitiu, levando os Stones a criar seu próprio selo e gerirem seu próprio trabalho a partir de 1970, não sem antes Klein conseguir os direitos da maioria das músicas gravadas pelo grupo antes de 1971.

Retiro espiritual na Índia

Em fevereiro de 1968, os Beatles foram estudar Meditação Transcendental no retiro de Maharishi Mahesh Yogi em Rishikesh, na Índia. A viagem foi, em parte, o resultado dos esforços de Harrison em ganhar mais influência na direção da banda - ele foi o primeiro dos Beatles a se interessar por música e filosofia indianas - embora, de cara, todos tenham sentido a necessidade de reavaliar o propósito do sucesso da banda.

"Acho que estávamos meio exaustos espiritualmente", disse Paul. "Éramos os Beatles, o que era maravilhoso Mas acho que havia aquele sentimento de 'É ótimo ser famoso, é incrível ser rico - mas qual o sentido disso?'" Entretanto, o incômodo logo se estabeleceu. Quando Harrison começou a achar que Lennon e McCartney poderiam estar usando o retiro como inspiração para compor, ele se indispôs. "Não estamos aqui para falar de música", reclamou. "Estamos aqui para meditar!"


Ringo Starr e sua esposa, Maureen, desistiram duas semanas depois de chegarem (Starr, que tinha problemas estomacais, não aguentou a comida local) e McCartney, acompanhado da namorada, a atriz Jane Asher, foi embora duas semanas depois. Harrison e Lennon ficaram até que o segundo percebesse que não estava chegando mais perto de resolver os problemas que atormentavam seu coração - a necessidade de reavaliar tanto seu casamento quanto sua carreira. Após ouvir um boato de que Maharishi havia feito insinuações sexuais sobre uma jovem no retiro, John se irritou e exigiu que ele e George abandonassem o lugar.

John & Yoko

De volta a Londres, Lennon abandonou Cynthia para mergulhar em uma relação séria com Yoko Ono, que ele havia conhecido em novembro de 1966. Embora Yoko seja geralmente descrita como uma mulher ambiciosa que perseguia John obstinadamente, ela também teve sua parcela de dor e decepção durante os tempos difíceis que viriam, perdendo contato com sua filha, Kyoko, e deixando de lado sua promissora carreira artística por causa de Lennon.

Como ela mesma contou mais tarde, "Sacrifiquei tudo por este homem". A imprensa e os fãs a ridicularizavam: era chamada de "japa", "china" e "amarela", e Lennon às vezes precisava protegê-la de agressões físicas. Esse julgamento alimentou a raiva de Lennon, mas pareceu pequeno quando comparado ao que aconteceu quando ele levou Yoko ao "mundo" dos Beatles.


O grupo raramente permitia que convidados aparecessem no estúdio, e nunca tolerou que ninguém - além do produtor George Martin ou talvez um engenheiro de som, como Geoff Emerick - desse opiniões sobre um trabalho ainda em produção.

Mas Lennon não levou Yoko como convidada; levou-a como colaboradora. Em maio de 1968, quando os Beatles começaram a produção de seu primeiro disco desde Sgt. Pepper, ela ficava sentada com John no chão do estúdio; conversava com ele ao pé do ouvido e o acompanhava toda vez que ele saía da sala.

Embora alguns achassem as colaborações de Lennon e Yoko indulgentes ou ridículas, McCartney percebeu que ela deixava Lennon mais confiante. "Na verdade, ela queria sempre mais", contou. "Faça mais coisas, faça o dobro, ouse mais, tire suas roupas. Ela sempre o persuadia a tentar coisas novas, e ele gostava. Ninguém nunca tinha feito isso com ele."

Em uma entrevista em 2018, Paul disse: "John amava mulheres fortes. Sua mãe era, sua tia que o criou era (…). Ele encontrou Yoko Ono e, mesmo que pensássemos que ela era meio intrusa, aparecendo nas sessões de gravações, olhando para trás agora dá para perceber como ele estava totalmente apaixonado por ela. Você tem que respeitar isso"

Quando o grupo percebeu que John e Yoko estavam usando heroína, nenhum deles soube o que fazer a respeito. "Foi um grande choque para nós", disse Paul, "porque achávamos que éramos caras avançados para a época, mas meio que acabamos subentendendo que nunca iríamos tão longe assim."

A ascensão de Harrison como compositor

Outro fator tido como outro catalizador para a separação dos Beatles foi o crescimento de George Harrison como compositor durante a segunda metade da carreira do grupo.

Nos primeiros anos, Lennon e McCartney foram os principais compositores e vocalistas, com Harrison e Starr assumindo papéis de suporte. Lennon e McCartney frequentemente compunham uma canção por álbum para que Starr cantasse, enquanto Harrison ou fazia uma versão de um standard ou gravava uma de suas próprias composições.


De 1965 em diante, as composições de Harrison começaram a amadurecer e a se tornar mais interessantes do ponto de vista qualitativo. Gradualmente, os outros membros da banda reconheceram seu talento como compositor. Ele foi o primeiro membro do grupo a lançar um álbum-solo, Wonderwall Music, boa parte do qual foi gravado em Bombaim em janeiro de 1968, com a participação de músicos indianos renomados tais como Aashish Khan, Shankar Ghosh e Shivkumar Sharma.

Em entrevista para a Melody Maker em setembro de 1969, Lennon disse: "o problema é que temos muito material. Agora que George compõe muito, poderíamos lançar um álbum duplo todo mês ..."

As tensões e o distanciamento nas colaborações

Após o fim das turnês em agosto de 1966, cada um dos membros decidiu buscar seus próprios gostos musicais em vários graus. Quando o grupo se reuniu para gravar Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band em novembro de 1966, ainda havia um senso de camaradagem e o desejo de colaborar como músicos; no entanto, as diferenças individuais estavam se tornando mais aparentes.


Em maior medida que os demais, McCartney manteve um profundo interesse nas tendências e estilos da música popular que estavam emergindo tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos, enquanto Harrison desenvolveu interesse pela música indiana, ao mesmo tempo que as composições de Lennon tornaram-se mais introspectivas e experimentais. Consequentemente, McCartney começou a assumir o papel de iniciador e líder dos projetos artísticos dos Beatles.

Cada um dos membros começou a desenvolver agendas artísticas individuais que viriam a comprometer o entusiasmo no grupo e logo cada um deles começou a se tornar mais e mais impaciente com os demais. Isto tornou-se mais evidente em The Beatles (o "álbum branco"), no qual as preferências artísticas pessoais começaram a dominar as sessões de gravação, o que viria a abalar ainda mais a unidade do grupo.

Harrison havia florescido - até Ringo estava compondo -, mas nenhum estava disposto a deixar que os outros obscurecessem ou direcionassem seus esforços. Os quatro tinham tanto material para gravar - e tanta ojeriza um pelo outro - que chegaram a gravar em três estúdios diferentes, até doze horas por dia.


Cada um tratava os restantes como se fossem seus músicos de apoio - o que gerava performances espetaculares e momentos explosivos: Lennon abandonando o estúdio irritado com o tédio ao gravar "Ob-La-Di, Ob-La-Da", de McCartney; Ringo saindo da banda por quase duas semanas, após Paul ter criticado a bateria de "Back in the U.S.S.R."; Harrison trazendo seu amigo guitarrista, Eric Clapton, só para ouvir merecidos elogios por "While My Guitar Gently Weeps"; McCartney dando uma bronca agressiva no produtor George Martin na frente da banda; e o engenheiro Geoff Emerick se demitindo por conta do comportamento ofensivo e turbulento do grupo.

Quando ficou pronto, o Álbum Branco foi considerado uma obra-prima desconjuntada, o som de uma banda no auge de sua forma, mas sem esperança alguma. Anos depois, Paul se referiria ao disco como "O Álbum Tenso".

Projetos paralelos

Com o problemático projeto Get Back/Let It Be posto em suspensão, o grupo continuou a gravar esporadicamente durante a primavera e o início do verão de 1969. Por outro lado, seus membros passaram a ficar cada vez mais envolvidos em atividades fora dos Beatles: Lennon lançou uma campanha internacional pela paz ao lado de Ono, com o compacto "Give Peace a Chance"; Harrison continuou a produzir os contratados da Apple Records, dentre eles Jackie Lomax, Billy Preston e Radha Krishna Temple in London; enquanto Starr começava a se estabelecer como ator de cinema. As sessões ocasionais deles ao longo do primeiro semestre de 1969 formaram a base do último projeto de gravação de um disco de estúdio dos Beatles: Abbey Road.

Logo após as sessões de Abbey Road, o uso de heroína por Lennon o inspirou a compor e gravar "Cold Turkey" com seu grupo conceitual com Yoko Ono, a Plastic Ono Band, após os Beatles terem rejeitado a canção para lançamento como compacto.



A formação da Plastic Ono Band foi concebida inicialmente como válvula de escape artística para Lennon e Ono, mas a recepção entusiástica vivida com a apresentação da nova banda no Toronto Rock and Roll Revival em 13 de setembro de 1969 cristalizou ostensivamente a decisão de Lennon em deixar os Beatles, tomada por ele durante o voo de volta para Londres.

As Sessões de Let It Be

No final de 1968, o status dos Beatles enquanto grupo estava no limbo. McCartney sugeriu um projeto de grupo que envolvesse ensaiar, gravar e então apresentar um grupo de canções para um concerto ao vivo. O projeto logo recebeu o título de trabalho de Get Back, mas que viria posteriormente a receber lançamento oficial como o álbum Let It Be e o respectivo filme em 1970.
Embora as sessões para o álbum duplo tivessem envolvido tocarem em conjunto, a banda estava despreparada para tocar novamente desta forma; para agravar, Lennon afundara-se no vício em heroína, deixando-o ou incomunicável ou altamente crítico de todo o projeto. Em 10 de janeiro de 1969, oito dias após os ensaios da filmagem terem começado no Twickenham Film Studios, a frustração e o ressentimento de Harrison chegaram a um ponto máximo e ele informou a seus companheiros de banda que ele estava saindo do conjunto. Tendo experimentado colaborações produtivas fora dos Beatles durante boa parte de 1968, particularmente com Eric Clapton, Bob Dylan e The Band, a postura paternalista de McCartney e o afastamento de Lennon cobraram seu preço e agora a banda estava num impasse e à beira do colapso.


Ao final, negociações tensas trouxeram Harrison de volta às atividades do grupo. Após a insistência de Harrison, os planos de McCartney para um concerto foram abandonados e o projeto foi realocado para o Apple Studio em Savile Row, em Londres, com o foco agora estando em meramente completar um novo álbum com algumas das canções ensaiadas em Twickenham.

Os negócios iam mal

Em 1969, a Apple Inc., empresa fundada pelos Beatles para cuidar de seus negócios, estava completamente desestruturada economicamente e em via de falência depois da morte de Brian Epstein, que cuidava dos contratos e da contabilidade da banda. John Lennon chegou a declarar que eles estariam quebrados em seis meses se as coisas continuassem como estavam.

Dick James, que mantinha participação substancial na Northern Songs (que publicava o catálogo Lennon–McCartney), preocupado com a discórdia entre os membros do grupo e o ressentimento a ele direcionado, sem notificar os Beatles, preparou ofertas para vender sua participação na Northern Songs. Klein e os Eastmans foram pegos desprevenidos e suas tentativas de reaver o controle dessa participação para os Beatles (através da Maclen Music) fracassaram.


As debandadas

Segundo o jornalista Ray Connolly, do London Evening Standard, em 1969 já corriam boatos da discórdia entre os Beatles, embora, na fachada, tudo parecesse bem. Até que, num dia de setembro, no QG da gravadora Apple, houve uma reunião dos Beatles a portas fechadas que acabou em briga, seguida de muito sobe e desce de escada e ninguém dizendo do que se tratava.


Durante esse encontro da banda na Apple em 20 de setembro, Lennon comunicou sua decisão a McCartney, Starr e Klein (Harrison não estava presente), dizendo-lhes que queria um "divórcio". Naquele mesmo dia, a banda assinou a renegociação de um contrato de gravação com a Capitol Records, que lhes garantia uma taxa mais alta de royalties. Esta foi a última, ainda que efêmera, demonstração de unidade da banda e a gravidade das negociações com a Capitol fez com que Klein e McCartney apelassem a Lennon que mantivesse seu anúncio em segredo até o lançamento do álbum e do filme Let It Be no ano seguinte, com o que Lennon concordou.

Tendo tentado por muito tempo manter a coesão dos Beatles, McCartney enclausurou-se com a nova família em sua fazenda na Escócia, desolado com a notícia da partida de Lennon. Após ter sido encontrado por repórteres da revista Life no final de outubro, McCartney reconheceu publicamente que "a coisa Beatle acabou", ainda que o significado completo dessa expressão tenha sido ignorado naquele momento.

Em 3 e 4 de janeiro de 1970, McCartney, Harrison, e Starr reuniram-se brevemente em Abbey Road Studios para gravar a canção de Harrison, "I Me Mine", e completar o trabalho na canção de McCartney, "Let It Be". Ambas eram necessárias para o álbum Let It Be, dado que havia a ameaça do estúdio cinematográfico americano United Artists, o que levou à decisão de finalmente preparar as gravações musicais e audivisuais do projeto Get Back.

Em 5 de janeiro Glyn Johns preparou uma fita master para lançamento, mas em março o produtor Phil Spector foi convidado para trabalhar no material. Embora McCartney tenha dito que não sabia do envolvimento de Spector até receber um disco de acetato do álbum Let It Be em abril, Peter Doggett escreveu que o trabalho foi atrasado em "várias semanas" até que McCartney retornasse "uma sequência de mensagens" exigindo sua aprovação para que Spector começasse a trabalhar nas fitas.

Efetivamente afastado de seus companheiros de banda e profundamente deprimido, McCartney começou a fazer uma série de gravações domésticas em Londres em dezembro de 1969. Sob sigilo estrito, McCartney concordou com a escolha de uma data para o seu primeiro álbum solo, intitulado McCartney, com o executivo Apple Records, Neil Aspinall. O lançamento foi marcado para 17 de abril de 1970. No entanto, uma vez que Lennon, Harrison e Starr souberam disso, imediatamente essa data foi considerada problemática, em função de outras produções existentes no catálogo da Apple cujo lançamento era pendente – dentre eles, estavam, Let It Be e o próprio álbum-solo de estreia de Starr, Sentimental Journey.

Em 31 de março, Starr foi à casa de McCartney comunicar-lhe pessoalmente da decisão de atrasar o lançamento de McCartney, notícia à qual este reagiu pessimamente, expulsando Starr de sua casa e recusando-se a ceder à data originalmente combinada com Aspinall. Chocado com o surto de seu companheiro de banda, Starr repassou a situação a Harrison e Lennon e o álbum de McCartney foi restabelecido para lançamento em 17 de abril.

O anúncio de McCartney veio através de um comunicado de imprensa distribuído a alguns jornalistas britânicos em 9 de abril, com cópias do álbum McCartney. O comunicado veio em forma de questionário no qual McCartney discute seu álbum (e com a saída de Lennon ainda sendo mantida em segredo em nome dos negócios), os assuntos que se relacionavam ao futuro imediato dos Beatles.

Ao mesmo que McCartney não declarou abertamente sua "separação dos Beatles" e não tendo planos futuros de trabalhar com a banda no futuro, ele também enfatizou sua distância da gerência de Klein e desconsiderou a possibilidade de vir a compor novamente com Lennon. Embora McCartney tivesse dito que foi o responsável pela imprensa na Apple, Derek Taylor, compôs o texto, Taylor mais tarde insistiu que aquelas que se referiam aos Beatles foram adicionadas por McCartney.

"Eu sei quem terminou os Beatles, foi John", disse Paul McCartney, em uma entrevista a Howard Stern, em 2018. E, continuou: "Não acho que ninguém tentou apontar o dedo para ninguém, mas foi assim. Houve uma reunião em que John apareceu e disse: 'Ei, pessoal, estou saindo da banda'".

Os Beatles subiram no telhado

Os Beatles fizeram sua última aparição pública no telhado da sede da Apple em 30 de janeiro de 1969, como substitutivo para um concerto com audiência.

Na hora marcada, esperando na escada que dava para o telhado, George e Ringo de repente não tinham mais certeza se estavam a fim de embarcar, mas, no último instante, Lennon disse: "Ah, foda-se, vamos fazer" e os Beatles, acompanhados por Preston, subiram no palco improvisado.


Foi o primeiro show dos Beatles desde agosto de 1966 - e o último. Também foi o melhor, o que diz muito sobre o poder coletivo da afinidade musical e do carisma que os quatro cultivaram, e que nem suas desavenças mútuas seriam capazes de apagar.

Enquanto tocavam (por quase uma hora), triunfando graças a seus instintos incomparáveis, John e Paul trocando sorrisos a cada bom momento ou deslize, a verdade sobre eles ficou clara: os Beatles eram uma família com uma história em comum, com uma linguagem particular que nenhum deles jamais esqueceria. Aqueles momentos, no entanto, não seriam suficientes para evitar o que estava para acontecer - ou o que já havia acontecido, duas noites antes.

O Processo E A Dissolução Legal

Em meio ao estardalhaço que se seguiu ao seu anúncio, McCartney retomou o assunto do trabalho de Spector em Let It Be "como um cão a lamber obsessivamente sua ferida". McCartney havia composto "The Long and Winding Road" como uma simples balada ao piano, mas Spector acrescentou à canção acompanhamento orquestral e de um coral feminino.

Em 14 de abril, McCartney mandou uma carta duramente escrita a Klein, exigindo que a nova instrumentação fosse reduzida, a parte de harpa fosse removida, acrescentando: "Jamais faça isto novamente."

Tendo chegado 12 dias após Spector ter distribuído os acetatos com o pedido de qualquer um dos Beatles o contatasse com mudanças a propor, as exigências de McCartney não foram atendidas. Klein diz ter enviado um telegrama a McCartney em resposta à carta de 14 de abril (considerando-se que McCartney havia mudado seu número de telefone sem informar a Apple), mas não obteve resposta. Assim sendo, Klein levou à frente a produção do novo álbum dos Beatles.

McCartney culpou a Klein pelo envolvimento de Spector, uma vez que Klein trouxera o produtor a Londres para trabalhar com os Beatles. McCartney resolveu assim cortar seus laços com a Apple e com os Beatles, como único modo de se libertar de Klein.

O desejo de McCartney de dissolver a parceira era problemático, uma vez que isto exporia todos a grandes alíquotas tributárias e suas súplicas para ser dispensado da Apple foram ignorados por Lennon, Harrison e Starr. Em 31 de dezembro de 1970, McCartney entrou com um processo contra os outros três Beatles na Alta Corte de Justiça de Londres, com vistas à dissolução contratual da parceria da banda.

Durante o processo, em fevereiro de 1971 a equipe advocatícia de McCartney focou em representar Klein como um executivo desonesto, com McCartney tomando a tese que os Beatles haviam há muito deixado de ser uma banda funcional e que as diferenças entre seus membros eram irreconciliáveis.

O tribunal ouviu depoimentos sob juramento de Lennon, Harrison e Starr, nos quais os três declararam suas dificuldades de trabalhar com McCartney mas ao mesmo tempo que estas estavam em grande medida superadas e que não havia razão pela qual a banda não pudesse continuar. O magistrado encarregado do caso decidiu em favor de McCartney e indicou um responsável pela administração durante o caso.

As negociações subsequentes foram muito demoradas, à medida que McCartney continuou a exigir sua dispensa dos Beatles e da Apple, ainda que seus próprios advogados agora lhe dessem os mesmos conselhos acerca da pesada taxação potencial que Klein identificara no início.

Os demais Beatles logo duvidaram da habilidade de Klein em negociar um bom acordo com McCartney, dada a antipatia corrente entre ambos; também estavam desiludidos com Klein por sua má administração no projeto de Harrison, Concerto para Bangladesh, e Lennon sentiu-se traído pela falta de apoio à música cada vez mais politizada que ele e Ono vinham fazendo.

Após Lennon, Harrison e Starr terem cortado formalmente os laços com Klein em março de 1973, iniciando nova onda de processos em Londres e Nova York, os quatro membros da banda tornaram-se capazes de cooperar entre eles em prol de um acordo. Esse documento, conhecido como "The Beatles Agreement", foi assinado pelos quatro em dezembro de 1974. A dissolução formal da parceria entre eles ocorreu em 9 de janeiro de 1975.

And in the end...

Antes da morte de John, eles recebiam seguidas propostas para retomar o grupo em troca de US$ 30 milhões. Mas o dinheiro foi um instrumento fraco de convencimento. Como se sabe, a tão esperada reconciliação nunca houve. Mas, no imaginário dos beatlemaníacos, a banda permanece unida, assim como no rádio, na televisão, na internet, em filmes e videogames. Para os fãs daquela época, de hoje e provavelmente das próximas gerações, John, Paul, Ringo e George nunca se separaram. Já faz 50 anos que a banda não existe e eles ainda estão e estarão por aí pra sempre!



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