Recentemente o
site Collectors Room, um dos mais conceituados portais brasileiros sobre Metal
e música em geral, elegeu os álbuns "Trova di Danú" e "Espresso
Della Vita: Solare", das bandas Tuatha de Dannan e Maestrick,
respectivamente, como 2 dos 50 mais importantes álbuns lançados na história da
música pesada brasileira em todos os tempos. Atuantes e relevantes, o Tuatha de
Danann e o Maestrick possuem algo em comum com os The Beatles e que os
diferencia da imensa maioria das bandas da cena underground atual: a busca pela
vanguarda, a reverência à arte em primeiro lugar e a coragem de ousarem
experimentar novos elementos em suas músicas. Com qualidades assim em suas
músicas, é claro que as duas bandas teriam em suas fileiras de frente
beatlemaníacos inveterados e que aqui, no My Beatles Experience, professam todo
seu amor e gratidão à influência da obra dos Fab4 em suas carreiras. Confere aí!
"Meu primeiro sentimento em relação ao
Beatles foi o de escárnio. Eu devia ter no máximo 5 anos, acho, e lembro de
meio que ridicularizá-los por conta dos cabelinhos do início de carreira,
achava muito zuado aquilo, até que aos 7 anos numa viagem com a família meu pai
colocou uma fita e começou a tocar Let it Be. Eu achei aquilo espantoso, bonito
demais, mexeu comigo de uma forma arrebatadora e com certeza delineou toda
minha vida a partir dali. De alguma forma minha sensibilidade artística e
talvez até o interesse pelas humanidades nasceram desse contato com os bardos
de Liverpool (todos descendentes de Irlandeses - tá tudo interligado!). Meu pai
tinha uma fita dos Beatles (só com as baladas) que eu ouvi até dissolver, mas
naquele mesmo ano me deu de presente de aniversário (a mim e meu irmão) os
discos duplos de 63-66 e 67-70. Eu saí procurando tudo que podia sobre Beatles:
seus discos, matérias em jornais, revistas, ia a sebos e procurava sempre coisa
diferente com pessoas mais velhas, seja informação ou material diferente do que
eu tinha. Até chegar aos 10 anos eu já tinha todos os discos que ia dando um
jeito de pegar com parentes mais velhos, ganhava de presente, comprava com
dinheiro que ganhava do meu avô etc... Chegou uma época que meus pais se
preocuparam com o tamanho do fanatismo e meu pai chegou a me dar um disco do
A-Ha pra tentar me desdoutrinar, mas não deu certo (hoje eu acho legal, mas à
época, Deus me Livre!). Eu tinha aquelas pastas de papel de carta cheia de
recortes sobre eles e sabia tudo de sua história, as datas de nascimentos,
todas as músicas, tudo que tinha como saber naquela era pré-internet. Graças
aos Beatles meu interesse real pra música foi pavimentado e eu comecei a tocar,
inclusive, por conta deles. Meus pais me ensinaram, mas a real motivação eram
os Beatles. Eu ficava intrigado, mesmo naquela época, como grande parte da
música deles era tão diferente, complexa e rica em relação a tudo que eu ouvia
de relance onde quer eu fosse. Eram muito superiores a tudo que tocava na
rádio, MTV, em todo e qualquer lugar. Com o tempo a gente vai desenvolvendo,
ouvindo outras coisas e tudo, mas sempre é possível identificar a luz ou a sombra
dos Beatles na produção musical posterior a eles. São mestres eternos que
fizeram este mundo ser mais legal, mais bonito e mágico. Em relação a minha
história é tudo culpa deles ou graças a eles, depende de quem e quando se pensa
nisso!"
Bruno Maia é vocalista e multi-instrumentista no Tuatha de Danann, além de produtor no Braia Studios. Já participou de projetos definitivos no Rock e Metal brasileiro como o Kernunna, Braia e Soulspell Metal Opera.
Fábio Caldeira (Maestrick)
"Na época que o Maestrick estava compondo o “Unpuzzle!”, eu resolvi que ao invés de ouvir as minhas bandas favoritas para buscar inspiração, ouviria as bandas que eram inspiração pra elas. E aí, caí de cabeça na fase mais progressiva e psicodélica dos Beatles. Desde o Rubber Soul, passando pelo Revolver e o início da fase mais experimental deles. Eu lia a respeito de cada disco e fui comprando um a um. Quando chegou a vez do Sgt. Peppers, eu já sabia quais eram as músicas e os seus assuntos, o conceito do disco com a ideia de tentar soar como uma banda “imaginária” e alguns experimentalismos, como o acorde de dez mãos no final de “A Day in the Life”. Quando escutei, foi como se algumas peças na minha cabeça tivessem se encaixado, porque a abrangência musical, as imagens que eles criavam com os arranjos e os temas, tudo isso era algo que eu sempre busquei como músico, e ali eles estavam mostrando, em 1967, que era possível fazer isso. Na minha opinião, esse é um dos discos seminais de tudo o que foi feito depois. Eu, mesmo não tendo conhecido antes o disco, com certeza já tinha sido influenciado por ele, através das bandas que já conhecia. A questão de se pensar em uma obra única, em uma época onde se trabalhavam muito os “singles”, e onde a mídia, LP, obrigava a ter dois lados, o “A” e o “B”, eles foram visionários e fizeram as músicas em sequência, imaginando que um dia existiria uma mídia que conseguisse tocar a obra inteira na íntegra. O uso dos sintetizadores, em músicas como “Lucy in the Sky with Diamonds” e “Being For the Benefit of Mr. Kite”, a forma caricata com que John as canta também, os arranjos de cordas e sinfônicos de músicas como “She’s Leaving Home” e “A Day in the Life”, as sonoplastias, as harmonias vocais, arranjos de instrumentos inusitados, como a “sítara” e “derbak”, tudo isso mostrou e sempre mostrará, que podemos ir além, como compositores, como artistas e sem dúvida, não só o Heavy Metal, como a música Pop e até a forma de se consumir música, mudou depois desse marco, que foi o “Sgt. Peppers”.
Fábio Caldeira interpretando "Helter Skelter" no projeto Sgt Folker
Fábio Caldeira é vocalista da banda de Prog Metal Maestrick e participa de importantes projetos como o Holy Tide que reúne renomados músicos da Europa e o Soulspell, uma Metal Opera brasileira.
Se quiser conhecer os trabalhos das bandas, clique nas capas abaixo:
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