Londres, 7 de outubro de 1963.
Estava eu no Studio 51 no Soho, em Londres, acompanhando a sessão de gravação de uma banda novata na cena rocker da capital... Uns tais Rolling Stones.
Os líderes da banda, Mick Jagger e Keith Richards, penavam ao tentar escrever alguma coisa que valesse a pena e tinham a certeza que precisariam de um single matador para dar-lhes uma sobrevida na gravadora.
O agente deles, Andrew Oldham, andava no estúdio pra lá e pra cá, coçando a testa, inconformado por não ter uma música que prestasse para lançar. Oldham é um jovem ambicioso. Tão jovem quanto os caras da banda e, reza a lenda, já trabalhou com Brian Epstein e ansiava pelo 'toque de midas' que o ex-patrão teve com os garotos de Liverpool.
No meio da tarde Andrew, extremamente frustrado, deixou o ensaio dizendo 'vou para o pub encher a cara'. Eu, logo fui atrás dele para ver se conseguia filar algumas cervejas do almofadinha, que já estava histérico.
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Andrew Oldham e Mick Jagger |
Talvez por ter trabalhado para o Sr. Epstein, Andrew já devia conhecer os caras... Só pode! Chegando no estúdio, foi uma festa! Todos se abraçaram e riram uns dos outros. O climão que estava no ar finalmente deu arrego à leveza e ao humor ácido de Lennon, que fazia piadas com todo mundo!
Mick, meio acanhado, explicou para a dupla de visitantes que estavam travados na escolha do repertório para o próximo single deles. Brian Jones, o outro guitarrista dos Stones, perguntou se os dois não teriam alguma coisa para eles, emendando a pergunta com uma piscadela de olho.
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Rolling Stones (1963) |
Em pouco mais de cinco minutos os dois tocaram algumas notas e cantarolaram palavras que pareciam ter saído de algum blues antigo de Muddy Waters. Então, fez-se o silêncio!
A dupla beatle se despediu depois de fumarem alguns cigarros e retornaram para o compromisso deles. O ar de festa continuou no estúdio e Brian já esmerilhava o slide pelo braço da sua guitarra, seguindo os acordes tocados por Keith. Bill e Charlie, o baterista, aumentaram o andamento bluesy da versão original dando um ar mais rock para a música.
Por incrível que pareça, Brian gostou tanto da música que resolveu fazer os backing vocals, tarefa executada prioritariamente por Keith até o momento. Andrew, embasbacado pelo som que ouvia, pegou o telefone e aos berros falou para o representante da gravadora: Vocês já podem agendar.... Já temos o nosso single para novembro!
Eu fiquei impressionado em ver como aquela bandinha mequetrefe lapidou uma música de Lennon & McCartney a tal ponto que parecia ser deles próprios. O tal do Mick Jagger cantava cada linha escrita por John Lennon como se estivesse ao pé do ouvido de alguma garota do East End... Sexy, brutal, vulgar e direto ao ponto.
E eu, bem... Eu estava no meio daquilo tudo, no olho do furacão, assistindo, talvez, a história sendo escrita diante dos meus olhos!
Não ganhei a cerveja que eu tanto queria, mas me dei por satisfeito por ter participado da gravação o novo single dos Rolling Stones. Vai ver, essa banda dure por algum tempo...
Nigel Innes, assistente de gravação, Estúdio 51, Londres - UK.
Por Alysson de Almeida
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